Entre o pop do ano no Spotify, um princípio de chuva na rua e os pensamentos sem inspiração sobre o trabalho, tudo parece diminuir de velocidade. A música já não toca. As pessoas não conversam. As gotas que começam a cair ficam inexplicavelmente suspensas no ar.
Eu, em frente ao computador, de saco cheio com os milhares de téc, téc, téc dos teclados. Ela, vagando por aí, desanimada com a aparência sem vida dos prédios da cidade. Até que eu a encontro. Ou ela faz isso. Não sei bem como essas coisas funcionam.
Por mais que eu tente, até mesmo me esforce, não tenho a mínima noção do porquê de ela me escolher. Talvez pelo meu estilo que destoa de todo o resto. Talvez por ter notado meu desespero em querer encontrá-la. Talvez até mesmo pela falta de qualquer outro lugar interessante para estar. O fato é que é ela ali, pertinho de mim.
Durante um tempo nós dançamos a Valsa no Palácio de Weimar e o Jazz no Village Vanguard. Fizemos amor bêbados no banco do carro. Fodemos enquanto trocávamos juras para a eternidade. Degustamos a cachaça e tragamos o vinho. Rasgamos a carne com unhas e curamos a pele com beijos. Tive inveja de Deus por ter criado algo tão sensacional. Não sei se foi amor, paixão ou qualquer merda dessas. Só sei que ela é tudo o que eu queria, tudo o que eu precisava, na verdade.
Até que um novo e-mail prenunciou o fim. Uns últimos instantes deram conta da irritação, do meu ciúme exagerado querendo que ela fosse apenas minha, das palavras ditas e não ditas. Aos poucos voltaram os sons dos teclados, dos passos, conversas e tudo mais. A chuva retornou. O mundo voltava a ser o que era.
Malditas alterações.
Me envolvi demais com uma simples ideia.
E na publicidade, meu caro, isso é uma das coisas mais estúpidas que alguém pode fazer.