Caso você ainda não conheça, House of Cards é uma série (incrível) produzida pela Netflix e lançada em 2013 que acompanha a história de Frank Underwood: um político que após ter sido vítima de uma certa “puxada de tapete” decide fazer tudo ao seu alcance em busca de ascender ao poder. Tudo mesmo.
Quando comecei a assisti-la, pensei que seria muito cansativo, afinal você é bombardeado o tempo todo com diálogos rápídos sobre procedimentos políticos chatos com os quais não está nem um pouco familiarizado. Porém, a série compensa isto muito bem, embalando tudo em uma trama muito bem desenvolvida e em outras coisas que vão lhe conquistando ao decorrer das temporadas. É de se destacar o uso extremamente bem feito da chamada “quebra da quarta parede” como recurso narrativo – parece que isso cria uma certa empatia com o personagem, que, apesar de desprezível, não consegue ter o nosso ódio. É uma maneira muito inteligente de mostrar quais são os verdadeiros pensamentos de Frank em uma determinada situação (porque, afinal, ele mente o tempo todo) aproveitando a atuação de brilhante Kevin Spacey, já que a mesma coisa poderia ter sido feita com um voice over, por exemplo.
Outra questão interessante é que a história se passa contemporaneamente ao nosso tempo. Por exemplo, a quarta temporada deve sair em 2016 e, pelo andar da carruagem, deve mostrar as eleições de 2016 na série também. É como se tudo estivesse acontecendo agora, mas em um Estados Unidos paralelo.
Depois de algum tempo assistindo à série, você já está familiarizado com o modo como tudo funciona no sistema político americano, Como dizia uma professora minha, é um balcão de negócios onde a moeda é o voto e, pasme, é igualzinho no Brasil. Aliás, arrisco dizer que esse balcão de negócios funciona ainda “melhor” no Brasil. Mas não são só as trocas: jogadinhas, estratégias e manobras são mostradas o tempo todo na série e, infelizmente, são muito similares ao o que ouvimos acontecer por aqui.
Como House of Cards mostra os bastidores do poder, você entende melhor todas as decisões tomadas e como elas chegam de forma disfarçada a conhecimento público. Você entende todas as motivações, as intenções, entende a quem serve o quê. Para quem, como eu, não é nenhum expert em política, é uma aula. Você aprende a olhar para o que acontece dentro do Brasil sob uma nova ótica, mais maliciosa, você entende as jogadas e aprende a pensar mais por si próprio. E digo mais: pelos últimos acontecimentos, nossa política não fica nem um pouco atrás, poderia ser facilmente roteirizada e filmada. E o pior, seria tão emocionante e indignante quanto a história de House of Cards.
Mesmo que de forma não proposital, a série tem um conteúdo que veio e muito a calhar para os brasileiros. Recomendo a todos que já a assistem fazerem este paralelo com a nossa realidade e a todos que não a assistem, começarem a fazê-lo, porque dá próxima vez que você ficar por fora de uma rodinha de conversa sobre a série, pode na verdade estar por fora de muito mais, e, no caso da política brasileira, tomar um spoiler pode ser uma boa coisa.